Quero inventar uma linguagem em que as palavras não tenham significado algum. Quero que elas não reflitam algo que você já carrega em si. Quero que elas te façam sentir o que elas são. Quero uma linguagem que não te dê medo de ler-la.
Que se foda você e que isso não te pese. Se o que sou te diminui e afasta, que longe você fique. Assim, sem mais nem menos. Numa linguagem simples e crua, ao som de um entardecer, com um olhar preenchido a secos galhos, com uma tensão na garganta, segurando o grito e a indignação, te coloco enquadrado na moldura eletrônica da contemporaneidade descartável e solúvel. Uma proteção entendível, uma solução rápida para resolver a ruptura abrupta, quase fria.
Naquela moldura, congelado, eu vejo o olhar que sempre te enganou no espelho. Um olhar que quando visto na superfície do vidro prateado, parece triste. O olhar te engana por conforto e medo. Quem consegue vê-lo melhor consegue escutar o grito, um grito de ânsia... Quem consegue olhar com cuidado, vê agarrada aos seus cílios, duas mãozinhas lutando contra a corrente de lágrimas, tentando trazer consigo o corpo do moleque risonho. Tá ali o que não foi permitido mas enterrado. Tá ali, atrás do disfarce confortante, o travesso eloqüente blá blá blá.
(começado dia 27, continuado dia 28 de Março)
O cansaço interrompeu as linhas. A saudade retomou a vontade de te dar algo que sempre foi seu. A saudade nos faz generosos e dando te sinto perto. Será que a saudade é mesmo generosa? Blá blá blás.
Eu falava do menino feliz, curioso e espontâneo que se deixou esconder pelo menino que acreditava que triste sendo suportaria a tristeza alheia. Eu contava do garoto que seguiu no porão do seu próprio estomago e deixou o outro crescer. O que cresceu sorriu com a boca, mas manteve o olhar reto, sempre um pouco molhado, para que todos se assegurassem que por ali nunca passaria felicidade completa. Mas ninguém nunca deu bola a tristeza do guri, que tinha tudo pra ser feliz... Afinal, ele tem tudo pra ser feliz.
Ao terminar o conto, do menino que mal conheço, mordo minha língua e julgo saber o que nunca vivenciei. Só não morro com meu veneno porque o que conto é só um conto...
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